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sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

verbomosaico

Outros fragmentos. E desta vez vai um título nada explícito. Também, se continuasse a sequência de "Fragmentos...", isso ficaria (mais) repetitivo e, claro, com uma dose extra de chatice. Hum... E é bom eu dizer logo que a minha intenção inicial era justamente esta: deixar aqui qualquer coisa (de autoria minha ou não) que sirva para me explicar. Com trechos, pedaços, costurar a colcha de retalhos da minha mente. Ou, mais dolorosamente nítido, juntar os cacos. Dos estilhaços fazer um mosaico, estabelecer uma nova ordem (psíquica, por enquanto) partindo do caos, sem tirar o deslumbre da desordem...
Agradeço à Maria Bertoche pelos melhores diálogos (e pelas dores de cabeça mais proveitosas) que eu já tive. A ela devo a descoberta de uns bons egofragmentos...


Rodrigo: (...) O que digo sobre mim é só um jeito de me sentir menos tolo do que os outras pessoas. Ser consciente da minha própria decadência é algo tão cheio de abismos que eu prefiro ser-para-os-outros, e ser justamente o delírio do que eu sou, blábláblá e etc. Com pedaços do que eu poderia ter sido ontem monto um mosaico bem bizarro, porém convincente, chego até a ser um bom amigo. Quem escreveu "Conhece-te a ti mesmo" (ah, um cara aí hehe), devia ter completado com "...por meio do engano".
Mais uma vez Manoel de Barros diz mais do que eu consigo com "filosofalhas":

"Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade"

Descobri a verdade como se tivesse encontrado um astrolábio ou um mapa de navegação de 500 anos atrás: já não serve...
Estou agindo como alguém que pensa entender, como um pessimista, ah, qualquer personagem desses muitos perdidos por aí...(...) (04/06/2006)

Rodrigo: Momento-confissão: eu sou um encadeamento de abismos abertos com simples palavras. E num quase big-bang eu continuo me fragmentando desde o dia em que me descobri sozinho diante de um caos que é só meu. Sou a ilha que eu mesmo criei para morar. E blábláblá, e "nocividades" sem fim... (05/06/2006)

Rodrigo: (...) A idéia que temos dos outros-vigiando-nossos-movimentos é a engrenagem que faz girar a vida humana. A lei dos outros, a Orientação Sábia dos Outros... A grande ditadura... (05/06/2006)

Maria: Mas não é à toa que é um grande problema da humanidade, esse. Adoramos falar que não, que "não importa o que os outros pensam de mim", mas no fundo é pra isso que mais ligamos. Fazemos bem, de certo modo. Se compilarmos tudo o que todos acham de nós devemos chegar a um personagem bem bacana. E talvez até mais verdadeiro do que aquele que achamos que somos. Acho que nossa relação com o mundo vale mais do que a de nós conosco, essa última é um tanto sem graça, na maioria das vezes, no mínimo vazia... Não seria a mesma coisa encenar se ninguém assistisse, mesmo que as melhores peças nunca tenham saído de dentro do quarto, da frente do espelho. 06/06/2006

Rodrigo: Olha, Maria, a vida é uma tragicomédia complicada demais para nosso pensamento estreito. A gente vai do riso ao choro, do ridículo ao sublime, sem ao menos enxergar todas as possibilidades, todas as trajetórias possíveis e impossíveis... Só pegamos uns poucos "flashes" da nossa própria atuação. Que miséria! Caindo e levantando, vamos acrescentando a nós mesmos coisas alheias, idéias alheias, pedaços de vidas alheias, numa tentativa (talvez) de conseguir um controle maior, ou pelo menos a ilusão de um controle maior sobre o que se passa à nossa volta. Então ficamos bem, e tudo é mais nosso do que a própria vida. Seria cômico, não fosse trágico. É. Seria trágico, não fosse cômico.
E subvertendo, e acrescentando, e representando nós vamos fingindo que somos originais, conscientes e, talvez, humanos... (07/06/2006)

Rodrigo: Ah, não dá para fingir que estamos a salvo nesta ilha (Orkut, nada sutil). Todo mundo espiona mesmo. A vida dos outros, não sei por que razão, sempre parece mais palpitante, mais instigante do que a nossa. Aqui as coisas ficam fáceis, passamos da estranheza à amizade de infância em questão de minutos. A máxima banalização... Sabemos que estamos sujeitos a tudo isso, mas queremos ser vistos, notados, observados, quase dissecados... Se não quiséssemos, era só não entrar nessa onda... É ou não é? (11/06/2006)

Maria: Queremos, infelizmente, precisamos ser queridos... Isso é triste.

Maria: A busca por ser aceito mereceria muitas divagações. Mas ela me encabula, não sei falar dela, não sei quando, onde ou porquê, só sei que existe, e é deprimente. Fazemos cada coisa pra sermos percebidos! Até fingimos que pensamos!Queremos platéia, no fundo queremos platéia. E uma bem atenta, cuidadosa, carinhosa. Gostaríamos tanto se todos da platéia fossem como os últimos - os amigos -, que, em busca deles, ou só por saber não ser possível todos serem, aceitamos que qualquer um veja, que seja pra jogar tomates, fingir interesse ou fazer comentários inconvenientes... (11/06/2006)

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