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sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Dostoiévski explica ( I )


Sou como o Raskolnikhóf do Crime e Castigo. Só que, em vez de ter matado alguém, eu arranquei pedaços de mim e substitui por coisas alheias, um pensamento, um gesto, um jeito de agir e falar. Coisas alheias ou inventadas, pouco importa. De todo jeito, um crime...
O crime da idéia fixa.

"Abandonara por completo os seus trabalhos cotidianos e não queria preocupar-se com eles. Na realidade, não temia a dona da casa, por muito que pudesse tramar contra ele. Agora, ter de parar na escada, escutar todas as tolices daquela mulher, estúpida até o absurdo, e que não lhe interessavam absolutamente nada; todos aqueles disparates a respeito do pagamento, aquelas ameaças e lamentações, e, ademais, ter de falar, desculpar-se, mentir, não, preferia atirar-se como um gato pelas escadas abaixo e deixar-se cair ao abandono, contanto que não visse ninguém."

"Mas não tardou que voltasse a mergulhar numa espécie de profundo indiferentismo e, para sermos mais precisos, num completo alheamento de tudo, de tal maneira que caminhava sem fixar a atenção à sua volta e também sem querer fixá-la. Somente uma ou outra vez murmurava qualquer coisa por entre os dentes, obedecendo ao costume de monologar (...)"

Imagem: Matheus Nachtergaele, em cena do filme Nina (2004)

2 comentários:

Anônimo disse...

O que eu acho mais incrível em Crime & Castigo - além do belíssimo texto e da temática e ambientação modernas pra época - é a idéia de Raskolnikhóf de que para alguém que tem muito a contribuir e oferecer à Humanidade, de que para um ser "superior", a Moral não se aplica, ou se aplica de forma distinta à que se destina aos mortais "comuns"... Veja que é algo muito mais sofisticado do que o "fins justificam os meios", de Maquiavel. Na verdade, essa idéia é, de certa forma, precursora do pensamento de Nietzsche. (Outra obra sensacional nesse contexto, é o filme Festim Diabólico, do Hitchcock.) Abraço!

Anônimo disse...

sim caos vc tem razão somos criminosos
marginalizamo-nos em nome das coisas que consideramos validas,que irão nos punir, que erguemos em altares de de vidro
e tudo não passa de regra de jogo
se mate mais um pouquinho para agradar fulano,mais um pedacinho de vicera por amor a sicrano,mais um punhal no coração com uma mentira para manter o falso apazigamento
sei que não e bem disso que vc falou....mas é o que seu pensamento me inspirou

mas que crime e castigo perturba e faz tremer ninguem pode negar