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quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Efeito da insônia?

"De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra - Como um lápis numa península." Manoel de Barros, no Livro sobre nada

Eu queria ser claro ao dizer as coisas. Bem, é muito fácil encontrar o caminho da clareza e ir andando, depois de extrair dos destroços da minha vontade um "Fiat lux!" bem sonoro, como um grito pra marcar o início. Fácil porque, na verdade, eu uso complicações para distrair os outros da minha falta de jeito com as palavras. Como usar óculos escuros: basta deixá-los de lado quando se quer ver melhor...
E isso pretendia ser um desabafo na mesma linha das "confissões" feitas pelo personagem do García Márquez (ver o trecho do Memórias de minhas putas tristes). Enfim, tem que ser alguma coisa, que seja um desabafo.
Eu sou dissimulado. Para evitar a exposição dos meus cacos ou, o contrário, mostrar total constância, equilíbrio, escolho qualquer atalho entre, um meio-termo entre expor toda a ruína e representar a farsa da existência. Pensando bem, isso não é ser dissimulado, pelo menos não totalmente. Já não dá pra dizer o mesmo da minha desconfiança. Essa não se divide e nem é flexível como qualquer outro defeito que eu possa ter. É maciça, de pedra, embora não tão aparente como eu gostaria (e aqui já entro em contradição com o que disse sobre a dissimulação). E é assim: desconfio, logo existo, esse o passaporte para a minha compreensão do mundo (de parte dele)...
Bastaria um pouco mais - um pouquinho só - de ânimo para eu deixar bem nítido o esboço da minha misantropia. Mas estou cansado, vindo de umas sessões de insônia...
E só pra dar um gostinho de indiferença a tudo isso:

"Pouco me importa. Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa" (Alberto Caeiro)

3 comentários:

Drika disse...

"não me importa" estava estampando há pouco tempo o meu msn.
se tudo der errado, não me importa. começo tudo de novo.
e tem dado certo!

desconfiança, um atalho pra pesquisa.
qto mais vc desconfia, mas vc procura a certeza. e acaba descobrindo outras vertentes.

ser dissimulado não é ruim quando vc usa isso pra se precaver do mundo.

beijos pra vc.

Anônimo disse...

"eu uso complicações para distrair os outros da minha falta de jeito com as palavras"

É, Rodrigo, sem dúvida há algo de "barroco" em seus textos, tanto pelo conteúdo atormentado e obsessivo quanto pela forma prolixa e rebuscada... Mas isso é uma questão de estilo, e é natural que busquemos um estilo que "distraia" os leitores de algo de que não gostamos tanto em nossa escrita... Mas não acho que no seu caso esse algo seja falta de jeito com as palavras...

Anônimo disse...

dissimulação
plalavra do meu dicionário cotidiano
adorei o texto......me contou coisas sobre vc